segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Afinal, Cavaco Silva queria mais!

A imprensa noticiou diligentemente declarações de Cavaco Silva nos Arcos de Valdevez em que este, com o seu jogo de banalidades, equívocos e ambiguidades habituais, teria criticado os cortes salariais na função pública ao mencionar piedosamente no seu discurso os «funcionários públicos duramente atingidos nesta crise».

Afinal, logo no dia seguinte, em Penafiel, continuando embora com o seu estilo discursivo de oráculo, cujas distintas interpretações acertam sempre no resultado, viu-se obrigado a dar um passo em frente na explicação. Vejamos as suas declarações, noticiadas pelo DN (ver aqui) e por outros jornais:

"Largos milhares de portugueses" do sector privado ficaram fora dessa tributação, lembrou o candidato a Belém em Penafiel. "Não se sabe que as reduções de rendimentos só foram aplicadas a funcionários públicos? Não percebo...", disse Cavaco perante as perguntas dos jornalistas. Interpelado sobre a possibilidade de cortes salariais para escalões mais elevados de rendimentos, através do IRS, respondeu: "Não há formas diferentes de fazer a questão, que não seja pela via dos cortes salariais".

Ou seja: este candidato que é também Presidente da República há cinco anos, que se fartou de chamar a si os louros dos acordos PS/PSD para a aprovação dos PECs governativos e do Orçamento de Estado de má mémória, resolveu (eleições obrigam!) dar uma no cravo e três na ferradura:

Uma lágrima de crocodilo do padrinho dos PECs para os funcionários públicos duramente flagelados, logo seguida da insinuação (porque clareza não, várias portas de saída ajudam sempre...) de que combater as injustiças e desigualdades seria, pasme-se, não anular os cortes salariais na funçãó pública, mas estender os cortes aos trabalhadores do sector privado, logo esclarecendo que tributar mais os altos rendimentos em sede de IRS, isso não.

Afinal, não é isto que as confederações patronais também querem, o direito de reduzirem os salários em todo o lado, rasgando acordos e contratos, em nome da sacrossanta competitividade terceiro-mundista a que aspiram?

Henrique Sousa, da Direcção da ATTAC Portugal

0 comentários:

About This Blog

  © Blogger templates The Professional Template by Ourblogtemplates.com 2008

Back to TOP