domingo, 28 de junho de 2009

O debate deve ser centrado em prioridades: só com emprego se pode reconstruir a economia

Manifesto de 51 economistas e cientistas sociais

O debate deve ser centrado em prioridades: só com emprego se pode reconstruir a economia

Estamos a atravessar uma das mais severas crises económicas globais de sempre. Na sua origem está uma combinação letal de desigualdades, de especulação financeira, de mercados mal regulados e de escassa capacidade política. A contracção da procura é agora geral e o que parece racional para cada agente económico privado – como seja adiar investimentos porque o futuro é incerto, ou dificultar o acesso ao crédito, porque a confiança escasseia – tende a gerar um resultado global desastroso.
É por isso imprescindível definir claramente as prioridades. Em Portugal, como aliás por toda a Europa e por todo o mundo, o combate ao desemprego tem de ser o objectivo central da política económica. Uma taxa de desemprego de 10% é o sinal de uma economia falhada, que custa a Portugal cerca de 21 mil milhões de euros por ano – a capacidade de produção que é desperdiçada, mais a despesa em custos de protecção social. Em cada ano, perde-se assim mais do que o total das despesas previstas para todas as grandes obras públicas nos próximos quinze anos. O desemprego é o problema. Esquecer esta dimensão é obscurecer o essencial e subestimar gravemente os riscos de uma crise social dramática.
A crise global exige responsabilidade a todos os que intervêm na esfera pública. Assim, respondemos a esta ameaça de deflação e de depressão propondo um vigoroso estímulo contracíclico, coordenado à escala europeia e global, que só pode partir dos poderes públicos. Recusamos qualquer política de facilidade ou qualquer repetição dos erros anteriores. É necessária uma nova política económica e financeira.
Nesse sentido, para além da intervenção reguladora no sistema financeiro, a estratégia pública mais eficaz assenta numa política orçamental que assuma o papel positivo da despesa e sobretudo do investimento, única forma de garantir que a procura é dinamizada e que os impactos sociais desfavoráveis da crise são minimizados. Os recursos públicos devem ser prioritariamente canalizados para projectos com impactos favoráveis no emprego, no ambiente e no reforço da coesão territorial e social: reabilitação do parque habitacional, expansão da utilização de energias renováveis, modernização da rede eléctrica, projectos de investimento em infra-estruturas de transporte úteis, com destaque para a rede ferroviária, investimentos na protecção social que combatam a pobreza e que promovam a melhoria dos serviços públicos essenciais como saúde, justiça e educação.
Desta forma, os recursos públicos servirão não só para contrariar a quebra conjuntural da procura privada, mas também abrirão um caminho para o futuro: melhores infra-estruturas e capacidades humanas, um território mais coeso e competitivo, capaz de suportar iniciativas inovadoras na área da produção de bens transaccionáveis.
Dizemo-lo com clareza porque sabemos que as dúvidas, pertinentes ou não, acerca de alguns grandes projectos podem ser instrumentalizadas para defender que o investimento público nunca é mais do que um fardo incomportável que irá recair sobre as gerações vindouras. Trata-se naturalmente de uma opinião contestável e que reflecte uma escolha político-ideológica que ganharia em ser assumida como tal, em vez de se apresentar como uma sobranceira visão definitiva, destinada a impor à sociedade uma noção unilateral e pretensamente científica.
Ao contrário dos que pretendem limitar as opções, e em nome do direito ao debate e à expressão do contraditório, parece-nos claro que as economias não podem sair espontaneamente da crise sem causar devastação económica e sofrimento social evitáveis e um lastro negativo de destruição das capacidades humanas, por via do desemprego e da fragmentação social. Consideramos que é precisamente em nome das gerações vindouras que temos de exigir um esforço internacional para sair da crise e desenvolver uma política de pleno emprego. Uma economia e uma sociedade estagnadas não serão, certamente, fonte de oportunidades futuras.
A pretexto dos desequilíbrios externos da economia portuguesa, dizem-nos que devemos esperar que a retoma venha de fora através de um aumento da procura dirigida às exportações. Propõe-se assim uma atitude passiva que corre o risco de se generalizar entre os governos, prolongando o colapso em curso das relações económicas internacionais, e mantendo em todo o caso a posição periférica da economia portuguesa.
Ora, é preciso não esquecer que as exportações de uns são sempre importações de outros. Por isso, temos de pensar sobre os nossos problemas no quadro europeu e global onde nos inserimos. A competitividade futura da economia portuguesa depende também da adopção, pelo menos à escala europeia, de mecanismos de correcção dos desequilíbrios comerciais sistemáticos de que temos sido vítimas.
Julgamos que não é possível neste momento enfrentar os problemas da economia portuguesa sem dar prioridade à resposta às dinâmicas recessivas de destruição de emprego. Esta intervenção, que passa pelo investimento público económica e socialmente útil, tem de se inscrever num movimento mais vasto de mudança das estruturas económicas que geraram a actual crise. Para isso, é indispensável uma nova abordagem da restrição orçamental europeia que seja contracíclica e que promova a convergência regional.
O governo português deve então exigir uma resposta muito mais coordenada por parte da União Europeia e dar mostras de disponibilidade para participar no esforço colectivo. Isto vale tanto para as políticas destinadas a debelar a crise como para o esforço de regulação dos fluxos económicos que é imprescindível para que ela não se repita. Precisamos de mais Europa e menos passividade no combate à crise.
Por isso, como cidadãos de diversas sensibilidades, apelamos à opinião pública para que seja exigente na escolha de respostas a esta recessão, para evitar que o sofrimento social se prolongue.

Manuel Brandão Alves, Economista, Professor Catedrático, ISEG;
Carlos Bastien, Economista, Professor Associado, ISEG;
Jorge Bateira, Economista, doutorando, Universidade de Manchester;
Manuel Branco, Economista, Professor Associado, Universidade de Évora;
João Castro Caldas, Engenheiro Agrónomo, Professor Catedrático, Departamento de Economia Agrária e Sociologia Rural do Instituto Superior de Agronomia;
José Castro Caldas, Economista, Investigador, Centro de Estudos Sociais;
Luis Francisco Carvalho, Economista, Professor Auxiliar, ISCTE-IUL;
João Pinto e Castro, Economista e Gestor;
Ana Narciso Costa, Economista, Professora Auxiliar, ISCTE-IUL;
Pedro Costa, Economista, Professor Auxiliar, ISCTE-IUL;
Artur Cristóvão, Professor Catedrático, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro;
Álvaro Domingues, Geógrafo, Professor Associado, Faculdade da Arquitectura da Universidade do Porto;
Paulo Areosa Feio, Geógrafo, Dirigente da Administração Pública;
Fátima Ferreiro, Professora Auxiliar, Departamento de Economia, ISCTE-IUL;
Carlos Figueiredo, Economista; Carlos Fortuna, Sociólogo, Professor Catedrático, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra;
André Freire, Politólogo, Professor Auxiliar, ISCTE;
João Galamba, Economista, doutorando em filosofia, FCSH-UNL;
Jorge Gaspar, Geógrafo, Professor Catedrático, Universidade de Lisboa;
Isabel Carvalho Guerra, Socióloga, Professora Catedrática;
João Guerreiro, Economista, Professor Catedrático, Universidade do Algarve;
José Manuel Henriques, Economista, Professor Auxiliar, ISCTE-IUL;
Pedro Hespanha, Sociólogo, Professor Associado, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra;
João Leão, Economista, Professor Auxiliar, ISCTE-IUL;
António Simões Lopes, Economista, Professor Catedrático, ISEG;
Margarida Chagas Lopes, Economista, Professora Auxiliar, ISEG;
Raul Lopes, Economista, Professor Associado, ISCTE-IUL;
Francisco Louçã, Economista, Professor Catedrático, ISEG;
Ricardo Paes Mamede, Economista, Professor Auxiliar, ISCTE-IUL;
Tiago Mata, Historiador e Economista, Universidade de Amesterdão;
Manuel Belo Moreira, Engenheiro Agrónomo, Professor Catedrático, Departamento de Economia Agrária e Sociologia Rural, Instituto Superior de Agronomia;
Mário Murteira, Economista, Professor Emérito, ISCTE- IUL;
Vitor Neves, Economista, Professor Auxiliar, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra;
José Penedos, Gestor;

Tiago Santos Pereira, Investigador, Centro de Estudos Sociais;
Adriano Pimpão, Economista, Professor Catedrático, Universidade do Algarve;
Alexandre Azevedo Pinto, Economista, Investigador, Faculdade de Economia da Universidade do Porto;
Margarida Proença, Economista, Professora Catedrática, Escola de Economia e Gestão, Universidade do Minho;
José Reis, Economista, Professor Catedrático, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra;
João Rodrigues, Economista, doutorando, Universidade de Manchester;
José Manuel Rolo, Economista, Investigador, Instituto de Ciências Sociais;
António Romão, Economista, Professor Catedrático, ISEG-UTL;
Ana Cordeiro Santos, Economista, Investigadora, Centro de Estudos Sociais;
Boaventura de Sousa Santos, Sociólogo, Professor Catedrático, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra;
Carlos Santos, Economista, Professor Auxiliar, Universidade Católica Portuguesa;
Pedro Nuno Santos, Economista;
Mário Rui Silva, Economista, Professor Associado, Faculdade de Economia do Porto;
Pedro Adão e Silva, Politólogo, ISCTE;
Nuno Teles, Economista, doutorando, School of Oriental and African Studies, Universidade de Londres;
João Tolda, Economista, Professor Auxiliar, Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra;
Jorge Vala, Psicólogo Social, Investigador;
Mário Vale, Geógrafo, Professor Associado, Universidade de Lisboa.

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terça-feira, 16 de junho de 2009

Marcha do Orgulho LGBT 2009 (Lisboa)

Junho é mês de luta; luta contra a discriminação, contra a vergonha, contra o silêncio.

Numa sociedade saudável, a orientação sexual não é assunto. Mas quando direitos básicos de cidadania são negados a uma parte da população, quando se diz por aí que a homossexualidade pode ser "curada", quando há pessoas agredidas pela forma como escolhem viver o seu corpo e a sua identidade, e quando tanta gente vive com medo de assumir quem é, é altura de perguntar se queremos viver numa sociedade que condena tantos dos seus membros ao sofrimento por cometerem o crime de amar quem amam.
É por tudo isto que a ATTAC é uma das associações promotoras da Marcha do Orgulho LGTB deste ano.
Temos orgulho de fazer parte desta luta. E apelamos à participação de tod@s, independentemente da sua orientação sexual. Chamem-lhe o que quiserem: coragem, solidariedade, cidadania. Para nós, tudo se resume a uma palavra: igualdade. Sem ela, ninguém pode ter orgulho de ser quem é.

20 de Junho (sábado), 17h, Princípe Real


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sábado, 13 de junho de 2009

Portal ATTAC Internacional lançado hoje

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quinta-feira, 11 de junho de 2009

Petição pela eliminação dos paraísos fiscais

A CGTP lançou uma petição a nível nacional apelando à urgente eliminação dos paraísos fiscais, nomeadamente dos existentes em território português. Tendo em conta que o objectivo expresso reflecte plenamente o já antigo posicionamento da ATTAC sobre os paraísos fiscais, apelamos a uma ampla divulgação e subscrição da petição da CGTP.
Porque uma economia ao serviço das pessoas não se compadece com espaços cujo único objectivo é facilitar a evasão fiscal nem se compadece com espaços cuja opacidade dá cobertura e suporta actividades criminosas de ordem diversa.
Subscrever a petição aqui.

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quarta-feira, 10 de junho de 2009

A ATTAC apoia o Movimento pela Igualdade

Um dos princípios fundadores da ATTAC é o combate a todas as formas de discriminação, por isso não poderíamos deixar de apelar à subscrição do Movimento Pela Igualdade no acesso ao casamento civil.

O texto, lançado por uma comissão promotora de mil pessoas e já subscrito on-line (aqui) por mais de 5000, é este: 

"A igualdade no acesso ao casamento civil é uma questão de justiça que merece o apoio de todas as pessoas que se opõem à homofobia e à discriminação. Partindo da sociedade civil, a luta pelo acesso ao casamento para casais de pessoas do mesmo sexo em Portugal conta neste momento com um crescente apoio político e social. Nós, cidadãos e cidadãs que acreditamos na igualdade de direitos, de dignidade e reconhecimento para todas e todos nós, para as/os nossas/os familiares, amigas/os, e colegas, juntamos as nossas vozes para manifestarmos o nosso apoio à igualdade. 
Exigimos esta mudança necessária, justa e urgente porque sabemos que a actual situação de desigualdade fractura a sociedade entre pessoas incluídas e pessoas excluídas, entre pessoas privilegiadas e pessoas marginalizadas; Porque sabemos que esta alteração legal é uma questão de direitos fundamentais e humanos, e de respeito pela dignidade de todas as pessoas; Porque sabemos que é no reconhecimento pleno da vida conjugal e familiar dos casais do mesmo sexo que se joga o respeito colectivo por todas as pessoas, independentemente da orientação sexual, e pelas famílias com mães e pais LGBT, que já são hoje parte da diversidade da nossa sociedade; Porque sabemos que a igualdade no acesso ao casamento civil por casais do mesmo sexo não afectará nem a liberdade religiosa nem o acesso ao casamento civil por parte de casais de sexo diferente; Porque sabemos que a igualdade nada retira a ninguém, mas antes alarga os mesmos direitos a mais pessoas, acrescentando dignidade, respeito, reconhecimento e liberdade. 
Em 2009 celebra-se o 40º aniversário da revolta de Stonewall, data simbólica do início do movimento dos direitos de lésbicas, gays, bissexuais e transgéneros. O movimento LGBT trouxe para as democracias - e como antes o haviam feito os movimentos das mulheres e dos/as negros/as - o imperativo da luta contra a discriminação e, especificamente, do reconhecimento da orientação sexual e da identidade de género como categorias segundo as quais ninguém pode ser privilegiado ou discriminado. Hoje esta luta é de toda a cidadania, de todos e todas nós, homens e mulheres que recusamos o preconceito e que desejamos reparar séculos de repressão, violência, sofrimento e dor. O reconhecimento da plena igualdade foi já assegurado em várias democracias, como os Países Baixos, a Bélgica, o Canadá, a Espanha, a África do Sul, a Noruega, a Suécia e em vários estados dos EUA. Entre nós, temos agora uma oportunidade para pôr fim a uma das últimas discriminações injustificadas inscritas na nossa lei. Cabe-nos garantir que Portugal se coloque na linha da frente da luta pelos direitos fundamentais e pela igualdade. 
O acesso ao casamento civil por parte de casais do mesmo sexo, em condições de plena igualdade com os casais de sexo diferente, não trará apenas justiça, igualdade e dignidade às vidas de mulheres e de homens LGBT. Dignificará também a nossa democracia e cada um e cada uma de nós enquanto cidadãos e cidadãs solidários/as – e será um passo fundamental na luta contra a discriminação e em direcção à igualdade."

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terça-feira, 9 de junho de 2009

Eu é mais bolos... e tu?

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segunda-feira, 8 de junho de 2009

«Pelos cidadãos, contra o dirigismo»

Artigo de São José Almeida no Público (da semana passada)

Foi apresentado no domingo, em Lisboa, o Movimento pela Igualdade (MpI) no acesso ao casamento civil entre pessoas do mesmo sexo. A cerimónia teve um importante valor simbólico, para além do seu valor intrínseco e da qualidade das intervenções feitas por Ana Zanatti, Daniel Sampaio, Pedro Lopes Marques e Isabel Mayer Moreira. Esta última é dona de um brilhantismo discursivo e de uma leitura constitucional centrada na defesa dos direitos humanos que surpreende num país em que é tão ignorado este assunto estruturante das democracias modernas.
A cerimónia de lançamento do MpI tem um valor simbólico imenso que importa salientar e que se desenvolve a dois níveis. O primeiro tem a ver com a luta pelos direitos cívicos dos homossexuais. O segundo, mais amplo, prende-se com o afastamento dos cidadãos da vida pública e política e da gestão do Estado.
No plano da luta dos homossexuais, o lançamento do MpI é um marco histórico. Pela primeira vez, numa cerimónia pública de reivindicação política de um direito, houve um homossexual que não dirige nenhuma associação a falar na primeira pessoa. Neste caso, uma mulher, Ana Zanatti, que fez o seu outing, com uma absoluta componente política de luta por direitos individuais e cívicos.
Mas o que o que se passou no domingo representa também a subida de patamar da luta por direitos dos homossexuais em Portugal. A cerimónia de dia 31 de Maio é o momento simbólico em que se dá a passagem de uma luta aparentemente fechada e centrada em débeis associações LGBT para uma abertura do movimento gay português à sociedade civil.
A luta pelo direito à dignidade humana e ao igual tratamento de todos os cidadãos perante a lei, que caracteriza a democracia e que era feita por alguns, passou a ser uma luta em que está representada a diversidade sociológica portuguesa. De Lili Caneças a José Saramago, de Miguel Sousa Tavares a Ana Luísa Amaral, de Ricardo Araújo Pereira a Susana Feitor, de Vasco Rato a Odete Santos.
É certo que é preciso não esquecer que este movimento, que ultrapassa já a lógica das associações LGBT, tem por trás as próprias associações. Este movimento e o seu manifesto não nascem de geração espontânea. Surgem de uma conjugação de esforços de cidadãos não organizados em associações com associações LGBT, feministas ou de luta contra a discriminação, como a ILGA, as Panteras Rosas, a Não Te Prives, a Rede Ex-aequo, a UMAR, a Rede de Jovens para a Igualdade, a Poliportugal, o Portugalgay.pt, o Caleidoscópio LGBT, a ATTAC, a Associação para o Planeamento da Família, os Médicos pela Escolha, o Grupo de Acção e Tratamento HIV/Sida.
E é o fruto de um trabalho quase anónimo, estigmatizado e estigmatizante, que alguns (pouquíssimos) homossexuais desenvolveram desde os anos 90 - destaque-se, a título de exemplo, Gonçalo Diniz. E que teve como marco, em 1995, o nascimento da secção portuguesa da ILGA, a partir da Abraço e impulsionada pelo terror da sida. Não é por acaso que este direito é reconhecido já nos programas de partidos. É porque houve um trabalho de lobby feito pelas organizações, que deve ser destacado e elogiado.
Assim como é evidente que o reconhecimento ou não do direito ao casamento e consequentemente à adopção, como último direito cívico simbólico que discrimina os homossexuais, não é uma mania - é uma das causas que movem a política nas democracias modernas. Atente-se na luta política à volta deste direito que se desenvolve nos Estados Unidos.
Outra coisa será o reconhecimento social e a mudança de mentalidade profunda, que levará décadas, mas que só será forçada se houver um quadro jurídico que imponha a mudança de comportamentos - como demonstra historicamente a luta pela emancipação dos negros, das mulheres e dos próprios homossexuais.
O nascimento do MpI tem também um significado simbólico no que é em geral a luta por direitos e por causas por parte dos cidadãos, enquadrados por associações, perante o poder político - uma forma de participação democrática moderna que em todas as democracias liberais complementa já a democracia representativa. E que teve um momento alto na luta a favor ou contra a liberalização do aborto.
Ainda esta semana a investigadora de ciência política Conceição Pequito, em conversa com o PÚBLICO (01/06/2009), a propósito da importantíssima investigação sobre o sistema político português que é a sua tese de doutoramento (O Povo Semi-Soberano. Partidos Políticos e Recrutamento Parlamentar em Portugal), diagnosticava como problema específico português, em relação às outras democracias europeias, precisamente a inexistência de sociedade civil. E o que isso significava de factor agravador do desfasamento entre os cidadãos e aqueles que podem ser os seus intérpretes no poder político, os partidos.
Em Portugal, o dirigismo dos partidos tem-se sobreposto e matado à nascença todas as tentativas de expressão política directa de cidadãos. Os partidos, criados após a revolução, sem base social, mantêm-se inacessíveis e sem querer partilhar o poder de decidir. Esse dirigismo, de quem só conta com os cidadãos para garantir votos e encher comícios, como se estes fossem bonecos insufláveis que se usam quando são precisos, pode, todavia, estar à beira de explodir de novo na cara da elite que dirige os partidos.
Até porque, se finalmente houve cidadãos que saíram de suas casas para ir ao Cinema S. Jorge defender a causa do acesso ao casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, o país corre o risco de viver mais um acto eleitoral em que os portugueses se recusam a entrar nas assembleias de voto e a manifestar a sua opinião nas urnas eleitorais.
Resta saber até quando os cidadãos portugueses vão permitir que as elites que dirigem os partidos mantenham a vida política como sua refém, ou se o MpI é um sinal para durar e multiplicar-se.»

Jornalista
São José Almeida

O Mpi pode ser subscrito aqui.

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