segunda-feira, 28 de março de 2011

Assembleia Geral da ATTAC Portugal

Convocatória

Assembleia Geral da 
ATTAC – Plataforma Portuguesa

De acordo com os Artigos 8º e 9º dos Estatutos, convocamos para o próximo dia 31 de Março, Quinta-feira, às 18 horas, na sede* da ATTAC, em Lisboa, a Assembleia Geral da Associação com a seguinte ordem de trabalhos:

1. Análise da situação e perspectivas de actividade da ATTAC. Aprovação do Relatório de Contas de 2010 e do Plano e Orçamento para 2011.
2. Eleição dos Corpos Sociais (Direcção, Mesa da Assembleia Geral e Concelho Fiscal)

Se à hora marcada não estiverem presentes a maioria dos Associados, a Assembleia reunirá 1 hora depois com qualquer número de presenças.

Lisboa, 10 de Março de 2011

Pelo Presidente da Mesa da Assembleia Geral
António Avelãs


* Sede da ATTAC: Rua Febo Moniz, nº 13, R/C. Próximo do Metro dos Anjos
** O exercício de voto, de eleger e ser eleito na Assembleia Geral, implica o pagamento da quota mínima anual de 15 Euros relativamente ao ano corrente. O pagamento poderá ser feito na própria Assembleia

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domingo, 27 de março de 2011

Cortar nos Bolsos de Quem Precisa para Salvar a Banca e as Grandes Fortunas? Não! PORTUGAL UNCUT



Nasceu o Portugal Uncut. Eis o texto de apresentação:

Portugal Uncut é um movimento recém-criado, inspirado no seu homónimo Britânico, UK Uncut, o movimento anti-austeridade que surgiu no Reino Unido a 27 de Outubro de 2010, apenas uma semana depois de George Osborne (actual chanceler britânico do tesouro) ter anunciado os cortes mais profundos nos serviços públicos desde 1920. Nesse dia, cerca de 70 pessoas percorreram a Oxford Street, entraram numa das principais lojas da Vodafone e sentaram-se. Estava a fechada a loja líder da Vodafone, empresa conhecida pelas suas práticas de evasão fiscal. Até então o movimento UK Uncut apenas existia como #ukuncut, uma hashtag do Twitter que alguém tinha imaginado na noite anterior ao protesto. Enquanto os manifestantes estavam sentados à porta a entoar palavras de ordem e a entregar panfletos aos transeuntes, a hashtag espalhou-se pelo Reino Unido, e as pessoas começaram a pensar repetir a acção. A ideia tornou-se viral. A fúria fervilhante contra os cortes transbordava. Apenas três dias depois cerca de trinta lojas da Vodafone em todo o país tinham sido encerradas.
Hoje, o movimento Uncut vai-se alastrando rapidamente a todo o planeta. Já existe em vários dos Estados Unidos da América, na Irlanda, no Canadá, na Holanda, na Austrália e em França.
O Portugal Uncut pretende desenvolver acções contra os cortes brutais, desnecessários e cegos nos serviços públicos e transferências sociais em todo o país. O corte nos benefícios fiscais, nas prestações sociais, no investimento público e nos salários vai atingir todos os aspectos da nossa vida: desde os cuidados médicos à educação, passando pela habitação, pela protecção ambiental, os incentivos ao desporto e às artes.
Quem continua imune aos cortes? Os lucros das maiores empresas, dos contribuintes privados das classes mais altas e a banca. Este modelo está errado. Não funciona e é injusto. A realidade e múltiplos estudos económicos demonstram-no. Apesar disso, é-nos imposto como inevitável. Os cortes em salários que já são demasiado baixos, o corte em benefícios fiscais que resgatam muitas famílias e indivíduos de situações catastróficas, e um complexo sistema mundial — que permite que “criativos de planos fiscais internacionais” canalizem os rendimentos para paraísos fiscais — garantem que somos nós a financiar a economia da crise, enquanto outros lucram com ela e se recusam a contribuir com o mínimo que lhes é exigido: pagando impostos.
Os bancos, através de condições legais vantajosas, conseguem pagar cada vez menos impostos enquanto os seus lucros crescem exponencialmente.
Chegou a hora de lhes mostrar isto: a água que sustenta o barco também o pode derrubar. Junta-te ao Portugal Uncut e vamos obrigar as empresas que fogem aos impostos a pagar.
Portugal Uncut é um movimento horizontal. Tal como nos restantes Uncut, queremos chegar a todos os grupos etários e de todas as origens sociais. Trata-se de um movimento independente e apartidário com o objectivo de desmantelar um sistema que favorece as finanças e não a comunidade. Não temos um modelo de protesto fixo, um discurso formatado, não saímos à rua a horas certas e não precisamos de sair todos ao mesmo tempo. Somos um movimento pacífico, as nossas armas são a imaginação, a informação e o poder que temos quando nos juntamos — na rua, nas redes sociais, por aí.
Explora o nosso site, “gosta” da nossa página no Facebook, segue-nos no Twitter e lembra-te de visitar os grupos Uncut que se formaram e ainda virão a formar-se um pouco por todo o mundo. Procura a tua inspiração nos milhares de pessoas que já se juntaram mundo fora e nas dezenas de protestos que já se fizeram.
Se quiseres organizar um protesto na tua cidade, fá-lo! Lá nos encontraremos!

(Adaptado a partir do texto de Anne Marshall no Canada Uncut. 25 Fev. 2011)

Site
Facebook
Twitter

Mariana Avelãs
(Direcção da ATTAC Portugal)

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sábado, 26 de março de 2011

Em Abril, Esperanças Mil!


JANTAR CONVÍVIO
15 DE ABRIL, 6ª FEIRA
Cantina Velha (Lisboa), 19h30
Intervenção de Tiago Gillot 
(Activista dos movimentos de trabalhadores precários)
Custo: 13 euros.

Nós que, pela esquerda, vimos de muitos lados e que vamos por muitos lados, não queremos dizer apenas NÃO!
Nós, em Abril dizemos: SIM!
É certo que passamos o ano a protestar contra a opressão, contra a exploração e a discriminação. A reclamar que nos roubam no salário e nos privatizam a sociedade. Mas em Abril queremos a liberdade, a igualdade, a solidariedade e a alegria de um Mundo melhor.
Por isso em Abril nos juntamos, neste jantar, para conviver, para conversar e para procurarmos os SIMs que a nossa inquietação exige. Unidos nas mil esperanças de Abril e com saudades do Futuro.

Mais informações, incluindo comissão promotora, aqui.
Evento no Facebook.

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segunda-feira, 14 de março de 2011

12 Março: chegou o tempo do vírus da revolta e da participação dos comuns?

As manifestações de 12 Março são um evento e um vírus positivo que marcam o início de uma nova fase na revolta e na mobilização activa dos comuns para se reapropriarem do controlo das suas vidas e do seu futuro. Agora as organizações políticas e sociais, os poderes, as elites, terão que ter em conta a irrupção na praça pública dos "de baixo", dos comuns, e da sua capacidade de associação, de convergência, de reclamação e de proposta. E da consciência conquistada de que as suas escolhas têm que contar nas políticas do futuro.

Resistindo à tentação fácil de canalizar um rio que felizmente saltou das margens que lhe foram impostas, por que não um movimento de participação e debate cidadãos, voltado para a construção concreta de alternativas que os poderosos não se cansam de insistir que não existem? Não uma vanguarda iluminada e disciplinadora, mas que dê voz aos comuns e aos saberes disponíveis para serem partilhados com os comuns. Não um movimento que seja "a" continuação do 12 Março, mas apenas um dos seus frutos.

É ou não o tempo de um movimento agregador de vontades cidadãs e de produção participada de novas alternativas e de novas políticas públicas? Vamos a isso?

Henrique Sousa, da Direcção da ATTAC Portugal

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sexta-feira, 11 de março de 2011

AMANHÃ A RUA É NOSSA!

Ponto de encontro da ATTAC em Lisboa: 15h em frente ao DN (temos materiais para distribuir, toda a ajuda é benvinda!)

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quinta-feira, 10 de março de 2011

12 de Março - A Luta É Alegria, e Eles Vão Participar. E Tu?


Ele vai | 12 de Março | E tu? (Protesto da Geração À Rasca - Lisboa)
Paulo de Carvalho - E Depois do Adeus

Ele vai | 12 de Março | E tu? (Protesto da Geração À Rasca - Lisboa)
Chullage - Fartu

Eles vão | 12 de Março | E tu? (Protesto da Geração À Rasca - Lisboa)
Blasted Mechanism - I Believe

Eles vão | 12 de Março | E tu? (Protesto da Geração À Rasca - Lisboa)
Homens da Luta - A Luta é Alegria

Ele vai | 12 de Março | E tu? (Protesto da Geração À Rasca - Lisboa)
Rui Veloso - Chico Fininho

Ele vai | 12 de Março | E tu? (Protesto da Geração À Rasca - Lisboa)
Luis Represas - Feiticeira

Eles vão | 12 de Março | E tu? (Protesto da Geração À Rasca - Lisboa)
Kumpania Algazarra - Super Cali

Ele vai | 12 de Março | E tu? (Protesto da Geração À Rasca - Lisboa)
Vitorino - Menina Estás à Janela

Ele vai | 12 de Março | E tu? (Protesto da Geração À Rasca - Lisboa)
Valete - Subúrbios

Ele vai | 12 de Março | E tu? (Protesto da Geração À Rasca - Lisboa)
Nação Vira Lata

Eles vão | 12 de Março | E tu? (Protesto da Geração À Rasca - Lisboa)
Social Smokers - Poeta Peter Pan

Ele vai | 12 de Março | E tu? (Protesto da Geração À Rasca - Lisboa)
Fernando Tordo - Tourada

Ele vai | 12 de Março | E tu? (Protesto da Geração À Rasca - Lisboa)
Tiago Bettencourt - Só Mais Uma Volta

Ele vai | 12 de Março | E tu? (Protesto da Geração À Rasca - Lisboa)
Zé Pedro

Ela vai | 12 de Março | E tu? (Protesto da Geração À Rasca - Lisboa)
Lúcia Moniz - Dizer que Não

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quarta-feira, 9 de março de 2011

12 Março: quem sabe faz a hora, não espera acontecer!

http://geracaoenrascada.wordpress.com/
Eu vou participar. Porque esta é uma manifestação de todas as gerações. De todos os que sobrevivem cada dia e fazem de cada dia um recomeço. De todos os que não têm lugar cativo nas administrações, nos gabinetes do poder, na especulação bolsista ou nos offshores, nem são os boys do sistema. Dos que têm emprego e temem perdê-lo por causa duma economia contra as pessoas. Dos que têm trabalho, mas não têm emprego. Dos que não têm trabalho nem emprego. Dos que só têm presente, porque lhes estão a roubar o direito ao futuro.
Podemos ter ideias diversas sobre as alternativas a esta ditadura dos mercados financeiros que inferniza as nossas vidas, estes novos deuses do dinheiro incensados por elites servis. Podemos até não ter ideias, que a coisa está difícil. Mas, como dizia o poeta José Régio, se "Não sei por onde vou, não sei para onde vou - sei que não vou por aí!". O que já é um bom começo e razão bastante para participar no dia 12.
Porque não vens também?


Henrique Sousa, da Direcção da ATTAC Portugal

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A manipulação política da linguagem


por  José María Zufiaur — Conselho Científico da ATTAC Espanha

Um dos maiores logros do neoliberalismo é a manipulação da linguagem, com a qual cimentou em grande medida a sua hegemonia ideológica. Entre as principais tarefas dos numerosos think tanks que trabalham ao serviço do novo capitalismo, encontra-se a de mistificar as suas mensagens ideológicas mediante uma utilização fraudulenta da linguagem. Os partidos de governo usam a mesma técnica que estes centros de alimentação ideológica neoliberal: além de que muitos dos responsáveis das áreas económicas dos governos provém destes núcleos de pensamento.
Por exemplo, a palavra reforma já não significa melhoria, mas retrocesso. A solidariedade não consiste em redistribuir dos ricos pelos mais pobres, mas em favorecer os ricos à custa dos pobres ou, pelo menos, numa solidariedade apenas entre pobres. A igualdade é cada vez menos uma igualdade entre classes para se tornar quase exclusivamente uma igualdade entre sexos. Empregabilidade não quer dizer que o Estado e a sociedade vão favorecer o emprego com políticas estruturais, além dos subsídios que mais não fazem do que modificar o lugar que os desempregados ocupam na fila do centro de emprego, mas sim que cada desempregado e cada trabalhador (potencial desempregado) devem converter-se em "empresários de si próprios". Garantir as pensões não significa que no futuro os reformados venham a ter uma reforma — como percentagem do seu último salário — igual ou melhor que a actual, mas apenas que as pensões públicas não vão desaparecer; ainda que dentro de 40 anos as pensões de reforma abaixo do limiar de pobreza devam atingir cerca de 50 ou 60% dos pensionistas; algumas previsões apontam para que em 2030 a percentagem de pensionistas pobres na UE atinja os 40%. Há poucos anos esta percentagem era de 20% e em Espanha de 28%. Significa ainda que as pensões privadas financiadas pela fiscalidade pública deverão crescer.
Também uma "saída social" da crise não consiste em prever que os mais favorecidos com a mesma sejam os trabalhadores e as classes médias, mas sim as grandes fortunas. "Privilégio" são agora os direitos laborais dos trabalhadores "normais"; não o abuso pelos grandes administradores do direito laboral para gozar de bónus, aposentações ou escandalosos contratos blindados, entendidos agora como "justas remunerações".  Ainda assim, julga-se admissível e lógico — e não sarcástico nem infame — propor aos desempregados, aos precários, aos que têm empregos a tempo parcial porque não conseguem um a tempo inteiro, aos jovens que continuam bolseiros aos trinta e muitos anos, que "trabalhem mais para ganhar mais".
Finalmente e entrando no tema que pretendo abordar, chama-se segmentação (do mercado de trabalho) à precariedade. Em vez de chamar-lhe, numa versão actualizada, exército de reserva do capitalismo.
Segmentação essa que, ainda por cima, é produzida pelos obstáculos que os trabalhadores que já estão no sistema de trabalho (insiders) põem à entrada dos que estão fora (outsiders). De acordo com o pensamento económico dominante, os primeiros, com os seus privilégios, protecções e direitos adquiridos impedem a entrada no mercado de trabalho dos segundos.
A primeira manipulação da questão é a afirmação de que esta segmentação laboral foi criada pelo suposto egoísmo dos trabalhadores e não pelos interesses do capital. Certo é que quem criou a segmentação e a dualidade — a precariedade, em suma — do mercado de trabalho, em Espanha como em muitos outros países, foram os governos e as suas políticas. Políticas que alimentaram um segundo mercado de trabalho com o objectivo último de o tornar muito mais barato (em salários, em prestações sociais, em custos de despedimento). Mediante normas e subvenções de que se aproveitaram massivamente as empresas. Há que dizer que conseguiram parcos resultados a longo prazo sobre o emprego e consequências nefastas sobre a estrutura e a produtividade do nosso sistema económico. Sem que nenhuma das nossas sucessivas reformas, supostamente realizadas para acabar com a dita dualidade, tenham alterado a situação, a não ser para pior.
Estreitamente vinculada à anterior, a segunda manipulação desta apresentação do problema é que, precisamente porque a segmentação responde aos interesses do capital e não aos "privilégios" dos trabalhadores com emprego, grande parte dos denominados outsiders não estão realmente fora do mercado de trabalho, mas sim dentro. Formam parte do mesmo, uma parte muito cuidadosamente engendrada. Ainda que seja a parte mais débil do mercado laboral, é a sua principal variável de ajuste.
Após vinte e cinco anos de tais políticas, utiliza-se agora o argumento da segmentação, da dualidade laboral, para estender a instabilidade e a correspondente descida da remuneração do trabalho para o conjunto dos trabalhadores. Uma igualdade por baixo. Com o evidente objectivo de que todos passem à instabilidade: todos poderão ser despedidos com a mesma facilidade e com o mesmo custo (esta é, pelo menos, a pretensão) do que "desfrutam" os temporários. Por outro lado, isto não fará senão aumentar o já enorme volume de trabalhadores com baixos salários. Tudo graças aos entretanto aparecidos defensores dos trabalhadores dualizados e segmentados. Estes esclarecidos defensores dos trabalhadores precários reconhecem que as reformas realizadas não o foram para criar emprego, mas para igualar uns e outros, tornando-os a todos precários. Questão esta que, para atingir o objectivo, requer uma reforma da negociação colectiva que, resumidamente, a torne menos colectiva.
Também aqui, como em tantas outras coisas, a "saída social" da crise tem uma certa semelhança com o que vem acontecendo desde o "Consenso de Washington" (neoliberalismo com reconhecimento, pelo menos teórico, dos direitos laborais) até ao "Consenso de Pequim" (neoliberalismo com questionamento ou pura e simples negação dos direitos laborais e sindicais mais fundamentais). Prova disso são as políticas de alguns estados da União, nos EUA, contra a negociação colectiva e as propostas de governo económico e social e do pacto de competitividade europeus, que pretendem interferir nos salários e na autonomia colectiva.
A publicação, nos últimos dias, de um estudo por parte do instituto francês de estatísticas (Insee) desvendou algumas características pouco publicitadas do mercado de trabalho em França. Pôs também em evidência que a segmentação do mercado laboral encerra algo mais que a diferença na estabilidade no emprego entre trabalhadores temporários e fixos. O dado (correspondente a 2008) de que 6.250.000 de trabalhadores franceses ganham menos que 750 euros líquidos por mês, ou seja, 25 euros por dia ou menos, encheu as primeiras páginas de jornais e revistas daquele país. Imediatamente líderes políticos e comentadores "descobriram" que um quarto dos trabalhadores franceses está na precariedade. Que mais de 6 milhões de pessoas que trabalham não ganham, nem de perto, o salário mínimo (1365 euros brutos).
Este conjunto de trabalhadores é composto por estudantes que trabalham, recepcionistas, empregados de empresas de trabalho temporário postos à disposição do sector industrial, contratados a tempo parcial, pessoas que alternam empregos com situações de paragem ou que trabalham com contratos subsidiados para entidades públicas ou privadas. Quem integra este universo de subemprego são fundamentalmente mulheres (58%) e jovens (37%). Dois terços destes trabalhadores ocupam um posto a tempo parcial e o outro terço a tempo completo, mas por curtos períodos de tempo.  Grande parte deste tipo de trabalhadores concentra-se no sector dos serviços (caixas de supermercados, assistência ao domicílio de pessoas dependentes, entrega de pizzas), mas 15% trabalha para o sector público.
Finalmente, esta premissa do serviço estatístico francês permitiu destacar — lá, como cá — várias questões importantes. A primeira e fundamental é que, por detrás do eufemismo da segmentação, pretende-se ocultar uma grande precariedade do mercado de trabalho. Precariedade essa que vai além dos contratos temporários a tempo completo e se estende a outras situações de subemprego, de que se fala muito pouco. Ainda menos se alui ao tema fundamental do nosso mercado de trabalho: a sua grande percentagem de baixos salários. Mais de 68% dos nossos assalariados, segundo os estudos do Professor Carlos Prieto, ganhavam há um par de anos menos de 1100 euros brutos por mês. É fundamental o conhecimento de como esta questão afecta o modelo laboral que temos e como irá afectar a reforma que decorre, assim como a que fica por concretizar sobre negociação colectiva, na contratação de novos trabalhadores e na sua protecção social presente e futura.  Ou seja, apesar de todas as maquilhagens verbais, esta é a questão central que está em jogo.
O caso francês pôs em evidência, além de tudo o mais, que as estatísticas oficiais apenas reflectem os salários médios dos trabalhadores a tempo completo. Pela primeira vez realizou-se em França um estudo público dos contratos deste universo de subempregados e não seria redundante fazer algo semelhante em Espanha. Esta invisibilidade dos trabalhadores precários não é produto apenas da estatística. É também consequência da falta de divulgação de casos reais, do anonimato de quem vive na precariedade. E ainda da incapacidade sindical, com as suas estruturas tradicionais, de representar este tipo de trabalhadores temporários, precários, com empregos parciais e horários ou organização do trabalho totalmente desestruturados.
Finalmente, segundo um dos especialistas franceses em organização do trabalho e economia do emprego, Philippe Askenazy — que acaba de publicar Les décennies aveugles. Emploi et coissance 1970-2010 — esta situação francesa resulta de três décadas de políticas de emprego a que ele chama contra-produtivas e que "ajudaram, a juntar aos 3 milhões de desempregados, a criar um novo exército de reserva do capitalismo, papel desempenhado nos anos 60 pela imigração".
Entre as políticas de emprego experimentadas em França, Askenazy refere a execução por Rymond Barre de: contratos a termo subsidiados (à semelhança do nosso Contrato de Incentivo ao Emprego de 1984). Refere ainda a política de Martine Aubry que, além de implantar a jornada semanal de 35 horas, pôs em marcha o modelo "polders" holandês, ou seja, o subsídio dos contratos a tempo parcial (semelhante ao que acaba de entrar em vigor no nosso país). A conclusão deste professor francês é que este tipo de iniciativas criaram nalguns casos um "efeito pechincha" (as empresas são subsidiadas por contratações que de qualquer forma iriam realizar) e noutros, como no caso do subsídio do tempo parcial, criaram mais postos de trabalho (ainda que estatisticamente seja difícil determinar se o incremento seja devido aos subsídios aos contratos a tempo parcial ou à lei de redução da jornada), mas não o volume global de horas trabalhadas. O que, entre outras coisas, se traduziu num benefício para os grandes supermercados, cuja política consiste em fazer face às horas de ponta dos hipermercados (25 horas por semana) com contratos a tempo parcial de 26 horas semanais.
Askenazy conclui que o custo deste tipo de políticas (vinte mil milhões de euros) teria sido melhor empregue na criação de empregos directos em serviços públicos com défice de efectivos, tais como o ensino ou a saúde. E termina afirmando que a primeira medida para mudar o rumo ao mercado laboral precário deveria consistir num exemplo da própria Administração Pública, não fazendo contratações desta forma.
Em suma, a segmentação, a precariedade, não é um "mal espanhol", ainda que o nosso seja um dos casos mais extremos, mas afecta de formas diferentes a maior parte dos países europeus. É um mal do novo capitalismo. É ainda necessário concluir que as "décadas cegas" em termos de políticas de emprego não parecem, infelizmente, prestes a terminar. Em vez de perguntarmos em que sectores ou produtos o nosso país pode ser mais competitivo e com que tipo de desenvolvimento económico se pode criar emprego sustentável, continuamos a insistir que as soluções passam por uma maior desregulamentação das normas laborais e da negociação colectiva. Estão por verificar os resultados da nova reforma laboral, mas durante esta crise ficou bastante claro que os países com piores resultados em termos de emprego foram aqueles que têm um mercado de trabalho mais desregulamentado ou onde, apesar da lei e para seu maior escárnio, há uma prática que a ultrapassa: Estados Unidos, Irlanda e Espanha.

Artigo publicado em Sistema Digital

Tradução do castelhano de Helena Romão

(imagem: Artigo 21.º)

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domingo, 6 de março de 2011

E o povo, pá?

E foi assim que a representação da revolta dos comuns irrompeu portas adentro de um acomodado e medíocre festival da canção que se preparava para ser mais do mesmo, supondo destinar a Jel & Cª tão só o lugar de peninha no chapéu para introduzir algum picante na apagada e vil tristeza do costume. Só que os "Homens da Luta" deram a volta por cima, viraram o feitiço contra o feiticeiro, ganharam com o voto do público contra a maioria dos júris regionais convenientemente seleccionados e instalados, e não se esqueceram até de lembrar a manifestação da "Geração à Rasca" do próximo dia 12 de Março. Uma agradável surpresa. Ou como, nestes tempos de chumbo e servidão, faíscas irrompem do ventre das artes e do espectáculo, primeiro com os Deolinda, agora com Jel & Falâncio, para animar a malta e a mobilização dos comuns contra o egoísmo e a ganância corrupta dos poderosos. Afinal, como diz a canção, a luta (também) é alegria. Sem nos levarmos demasiado a sério. Aceitando, como os "Homens da Luta", confrontar com humor os nossos próprios estereótipos do combate social e político.

Henrique Sousa, da Direcção da ATTAC Portugal

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sábado, 5 de março de 2011

Abril em Março


Imagem de Gui Castro Felga, a partir de fotomontagem de Filipe Homem Fonseca.

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sexta-feira, 4 de março de 2011

Protesto da Geração à Rasca :: Carta aberta à Sociedade Civil

Carta aberta a todos os Cidadãos, Associações, Movimentos Cívicos, Partidos, Organizações Não-Governamentais, Sindicatos, Grupos Artísticos, Recreativos e outras Colectividades:

Protesto da Geração À Rasca
12 de Março às 15 horas
Avenida da Liberdade – Lisboa e Praça da Batalha – Porto

Exmos. Srs.,
O «Protesto da Geração À Rasca» surgiu de forma espontânea, no Facebook, fruto da insatisfação de um grupo de jovens que sentiram ser preciso fazer algo de modo a alertar para a deterioração das condições de trabalho e da educação em Portugal.
Este é um protesto apartidário, laico e pacífico, que pretende reforçar a democracia participativa no país, e em consonância com o espírito do Artigo 23º da Carta Universal dos Direitos Humanos:
1. Toda a pessoa tem direito ao trabalho, à livre escolha do trabalho, a condições equitativas e satisfatórias de trabalho e à protecção contra o desemprego.
2. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual.
3. Quem trabalha tem direito a uma remuneração equitativa e satisfatória, que lhe permita e à sua família uma existência conforme a dignidade humana, e completada, se possível, por todos os outros meios de protecção social.

(…)

Por isso, protestamos:

-Pelo direito ao emprego.
-Pelo direito à educação.
-Pela melhoria das condições de trabalho e o fim da precariedade.
-Pelo reconhecimento das qualificações, competências e experiência, espelhado em salários e contratos dignos.

Porque não queremos ser todos obrigados a emigrar, arrastando o país para uma maior crise económica e social.

Segundo o INE, o desemprego na faixa etária abaixo dos 35 anos corresponde hoje à metade dos 619 mil desempregados em Portugal. A este número podemos juntar os milhares em situação de precariedade: “quinhentoseuristas” e outros mal remunerados, escravos disfarçados, subcontratados, contratados a prazo, falsos trabalhadores independentes, estagiários, bolseiros e trabalhadores-estudantes.
No que concerne à educação, o acentuar das desigualdades no acesso ao ensino limita as oportunidades individuais. Milhares de pessoas são impedidas de ingressar ou obrigadas a abandonar os seus estudos. Outras ainda vivem situações de indignidade humana para conseguirem prosseguir os seus percursos académicos.
Não negligenciamos os problemas estruturais, domésticos e internacionais, que afectam a vida de muita gente na procura e obtenção de emprego. Queremos alertar para a urgência de repensar estratégias nacionais e não nos resignamos com os argumentos de inevitabilidade desta situação. É com sentido de responsabilidade que afirmamos que, sendo nós a geração mais qualificada de sempre, queremos ser parte da solução.


No dia 12 de Março, pelas 15 horas, convidamo-lo a estar presente na Avenida da Liberdade em Lisboa ou na Praça da Batalha no Porto, no Protesto da Geração à Rasca cujo manifesto abaixo citamos.

João Labrincha
Paula Gil
Alexandre de Sousa Carvalho
António Frazão


Manifesto
Nós, desempregados, “quinhentoseuristas” e outros mal remunerados, escravos disfarçados, subcontratados, contratados a prazo, falsos trabalhadores independentes, trabalhadores intermitentes, estagiários, bolseiros, trabalhadores-estudantes, estudantes, mães, pais e filhos de Portugal.
Nós, que até agora compactuámos com esta condição, estamos aqui, hoje, para dar o nosso contributo no sentido de desencadear uma mudança qualitativa do país. Estamos aqui, hoje, porque não podemos continuar a aceitar a situação precária para a qual fomos arrastados. Estamos aqui, hoje, porque nos esforçamos diariamente para merecer um futuro digno, com estabilidade e segurança em todas as áreas da nossa vida.
Protestamos para que todos os responsáveis pela nossa actual situação de incerteza – políticos, empregadores e nós mesmos – actuem em conjunto para uma alteração rápida desta realidade, que se tornou insustentável.
Caso contrário:
a) Defrauda-se o presente, por não termos a oportunidade de concretizar o nosso potencial, bloqueando a melhoria das condições económicas e sociais do país. Desperdiçam-se as aspirações de toda uma geração, que não pode prosperar.
b) Insulta-se o passado, porque as gerações anteriores trabalharam pelo nosso acesso à educação, pela nossa segurança, pelos nossos direitos laborais e pela nossa liberdade. Desperdiçam-se décadas de esforço, investimento e dedicação.
c) Hipoteca-se o futuro, que se vislumbra sem educação de qualidade para todos e sem reformas justas para aqueles que trabalham toda a vida. Desperdiçam-se os recursos e competências que poderiam levar o país ao sucesso económico.
Somos a geração com o maior nível de formação na história do país. Por isso, não nos deixamos abater pelo cansaço, nem pela frustração, nem pela falta de perspectivas. Acreditamos que temos os recursos e as ferramentas para dar um futuro melhor a nós mesmos e a Portugal.
Não protestamos contra as outras gerações. Apenas não estamos, nem queremos estar à espera que os problemas se resolvam. Protestamos por uma solução e queremos ser parte dela.

Daqui.

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quarta-feira, 2 de março de 2011

Economia para Todos

Curso Grátis ::: Economia para Todos ::: Todas as Terças-feiras de Março às 19h30

1 de Março
'Para onde anda a Economia: ainda tem a ver com as pessoas?'
José Reis, Director da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra

8 de Março
'Economia, bem comum e governação'
Ana Costa, Professora Auxiliar do ISCTE/IUL - DINÂMIA/CET

15 de Março
'Competitividade Internacional'
Luís Oliveira Martins, Professor Associado da Universidade Nova de Lisboa

22 de Março
'Euro: um futuro incerto'
João Ferreira do Amaral, Professor Catedrático ISEG/UTL

29 de Março
'Capitalismo ou Capitalismos?'
João Rodrigues, Investigador Centro de Estudos Sociais da Uni. Coimbra

Local: Fábrica Braço de Prata - sala Visconti
Morada: Rua da Fábrica de Material de Guerra, nº1 1950-128 Lisboa

Informações: Frederico Pinheiro (fredericopinheir@gmail.com)

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terça-feira, 1 de março de 2011

Preço do Petróleo: Soberana Hipocrisia



Por Rosa Mª Artal – Comité de Apoio da ATTAC (Espanha)

A gente bem intencionada está muito preocupada com a subida do preço do petróleo causada pela paragem da produção na Líbia, que por sua vez se deve ao facto de andarem para ali à marretada e honrados bombardeamentos, pelo que não há quem trabalhe na extracção de crude. Claro que estendem a sua inquietação a todos nós. O ministro da Indústria espanhol, Miguel Sebastián, alta autoridade, explicou que “uma subida de 10% do barril de crude tem um impacto de 6000 milhões na economia espanhola e, no âmbito europeu, o equivalente a todo o orçamento da UE”. Li ainda que voltou a dar aos “mercados” o enésimo ataque de ansiedade. Bem que podemos tremer. Aliás, não é para menos, a antiga empresa pública espanhola, Repsol,  triplicou os seus lucros líquidos no ano passado, tendo alcançado os 4693 milhões de euros.
Vejamos: em 2003 o preço do petróleo rondava os 25 dólares por barril. Já agora, um barril de petróleo tem capacidade para 159 litros. Em Agosto de 2005 tinha mais que duplicado o seu custo: estava a 60 dólares. Desde então assistimos a uma escalada vertiginosa, tendo chegado a um máximo histórico em Julho de 2008: 147,25 dólares.
Por acaso, na mesma época os alimentos básicos também atingiam preços nunca antes vistos. O que se passava? Acontecia o mesmo nos dois casos: especulação. Os nervosos “mercados” abotoavam-se — se me é permitida a expressão — à custa de milhões de pessoas e graças àquilo a que chamam investir provocaram subidas dos preços motivadas pela ganância. Acontece que apenas se abotoam uns quantos entendidos.
Também então nos contavam como subia o petróleo e os alimentos, mas as declarações, as notícias e as opiniões pungentes não apontaram culpados com a mesma intensidade com que o fazem agora.
Porque agora, senhores, agora temos mesmo culpados: os cidadãos das “petroditaduras” e quejandos, fartaram-se. E tomaram as ruas. Calcula-se que Khadaffi terá já carregado sobre 10000 manifestantes. Se fossem números de vítimas de um terramoto haveria câmaras e enviados especiais. Até porque o tirano os teria deixado entrar. Mas agora não.
Ninguém duvida de que o aumento do trigo foi uma das causas da revolta contra Mubarak. Vozes alarmadas — neste caso com razão — voltam a alertar-nos para a subida de preços dos bens alimentares para níveis insustentáveis. O impacto está avaliado:  44 milhões de novos pobres em apenas meio ano. Falam de más colheitas e socorrem-se do velho argumento do tempo: ou chove muito ou há seca. Em 2008 Vicente Romero entrevistava Jean Ziegler, relator especial da ONU, para uma reportagem do programa Informe Semanal. Os seus dados foram conclusivos: 8 empresas controlam 80% dos alimentos do mundo.
Voltamos ao mesmo. Estamos no mesmo sítio onde estávamos dois meses antes da queda da Lehman Brothers, primeiro derrubado da teia financeira mundial, que ocorreu em Setembro de 2008. Recuperaram-se divinamente! Notificaram os seus empregados nos governos mundiais que não podem enervar-se. Que o petróleo já estava a subir. Há um mês ultrapassou essa bela invenção da “barreira psicológica” dos 100 dólares por barril. O sangue árabe fê-lo subir, ao que parece, ainda mais 11 dólares, 11. Por agora..., já sei. Ainda faltam 36 dólares para chegar aos níveis a que chegou com a cobiça silenciada.
A Comunidade Internacional continua “muito preocupada”, cada vez mais preocupada... e sem mexer um dedo para deter a carnificina desencadeada pelo seu amigo Khadaffi. Além disso, a inoperante UE, nem sabe se há-de estar ainda mais inquieta, por causa da avalanche de desgraçados que está a chegar. Aí sim, hão-de tomar medidas: estudar como melhor pôr barreiras para os deter. A Comunidade Internacional continua reunida. Preocupada. A deliberar...

Tradução do castelhano: Helena Romão

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