domingo, 25 de abril de 2010

Que viva o 25 de Abril (Sempre)!

Esta é a minha comovida homenagem, este ano, ao 25 de Abril. Que foi uma revolução e um levantamento popular, e não apenas o golpe de militares generosos e corajosos a que muitos hoje o querem reduzir. E que outros, com um suspiro, desejariam que tivesse sido apenas um processo pactado de transição política à espanhola.

Mas houve mesmo revolução neste canto mais ocidental da Europa, com um processo de intensas transformações políticas, económicas e sociais. Em que todos aprendemos a libertar a palavra e o gesto, a ocupar o espaço público, a confrontar livremente ideias e projectos, a conquistar e defender direitos, nas fábricas, nos campos, nas escolas, nas ruas.

Esse PREC que alguns agora pintam de cores sombrias, mas que foi afinal um processo criativo de participação, de festa, de aprendizagem democrática e cidadã, certamente também de luta e conflito de interesses e ideias, de tentativa e erro no processo de construção da nossa democracia. E que significou a elevação dos padrões de vida dos trabalhadores, de conquista de direitos sociais e políticos que ainda hoje perduram, de descolonização, duma mais justa distribuição da riqueza depois posta em causa pelas políticas protectoras e recuperadoras dos grandes interesses económicos que converteram hoje Portugal no mais desigual da União Europeia.

Se o 25 de Abril foi uma revolução inacabada, vale a pena celebrar hoje não apenas o que foi, mas também a herança democrática de direitos que permanecem, e a modernidade dos seus valores e ideais para moldarmos um futuro melhor. Com a confiança e esperança de que somos muitos, novos e velhos, que não deixarão que suceda à II República de hoje, nos tempos difíceis que vivemos, o que sucedeu à I República, afundada numa ditadura de 48 anos, porque apodreceu nas suas divisões, na sua corrupção e na sua incapacidade de cumprir os seus ideais e promessas.

Já agora, eu sei que alguns consideram o regime fascista do Estado Novo como a II República, só que faço parte dos muitos que concebem como essencial ao conceito contemporâneo de república a ideia e prática da liberdade. Não vejo como conceber a ditadura como república, ainda mais quando me recordo da perseguição que aquela sempre fez à simples celebração do 5 de Outubro pelos democratas oposicionistas.

Celebremos, então, o 25 de Abril, entre amigos, com um copo de bom vinho, com muita fraternidade e muita música.

Como contributo pessoal para a festa, aqui fica uma bela canção do grande cantor catalão Lluis Llach de homenagem ao 25 de Abril português, editada em 1975, no ano do falecimento do ditador Franco e cantada quando o franquismo sem Franco ainda tentava resistir à perda do poder político e a nossa Revolução dos cravos inspirava o povo espanhol no seu combate pela democratização, concretizada com as primeiras eleições livres e os pactos de Moncloa em 1977. É uma sugestão e uma escolha partilhadas com a minha filha Marta, que a considera um dos mais belos cantos de celebração de Abril.

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Texto na versão castelhana do belo poema desta canção:

ABRIL 74
Compañeros, si sabéis donde duerme la luna blanca
decidle que la quiero
pero que no puedo acercarme a amarla
porque aún hay combate.

Compañeros, si conocéis el canto de la sirena
allá en medio del mar,
yo me acercaría a buscarla
pero aún hay combate.

Y si un triste azar me detiene y doy en tierra
llevad todos mis cantos
y un ramo de flores rojas
a quien tanto he amado.

Compañeros, si buscáis las primaveras libres
con vosotros quiero ir
que para poder vivirlas
me hice soldado.

Y si un triste azar me detiene y doy en tierra
llevad todos mis cantos
y un ramo de flores rojas
a quien tanto he amado.
Cuando ganemos el combate.

Lletra
Lluís Llach

Música
Lluís Llach

Edició
1975

Henrique Sousa
Membro da Direcção da ATTAC Portugal

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