Fórum Social Europeu de Istambul: apesar das dificuldades, quem disse que não há alternativas?
O FSE que terminou no passado dia 4 em Istambul espelhou, na sua organização e funcionamento, nas suas debilidades e resultados, os desafios e contradições com que os movimentos sociais, sindicatos incluídos, estão confrontados na Europa.
Reunindo alguns milhares de activistas, entre os quais uma representação da ATTAC de vários países (a ATTAC Portugal não conseguiu reunir condições para participar), o FSE foi ao mesmo tempo revelador dos impasses e encruzilhadas não resolvidas do movimento altermundialista, dos efeitos negativos da própria crise económica e social no número de participantes (menor que em fóruns anteriores) e nos recursos das organizações sociais, mas foi também uma grande demonstração de vontade dos movimentos sociais europeus de progredirem na reflexão comum para impulsionar a unidade de acção à escala europeia em defesa dos direitos sociais e da ecologia.
29 Setembro, jornada de luta europeia: que vamos fazer em Portugal?
O documento aprovado na assembleia final do FSE (ver aqui) apela à transformação do próximo dia 29 de Setembro e dos dias vizinhos numa grande jornada de mobilização à escala europeia por aqueles objectivos, em convergência com a convocatória já feita pela CES - Confederação Europeia de Sindicatos para um Dia de Acção Europeia nessa data (incluindo uma manifestação em Bruxelas) contra as políticas neoliberais que, em nome da "austeridade", estão a sacrificar os trabalhadores, o emprego, os sistemas de protecção social. Também para a mesma data está já convocada uma greve geral em Espanha e jornadas de luta estão convocadas noutros países. Certamente que, também em Portugal, onde estamos a ser duramente fustigados pelas políticas anti-sociais e recessivas do Governo e da EU, sindicatos e movimentos sociais participarão nesta mobilização social europeia, que aponta o caminho de juntar e somar as lutas nacionais com uma escala europeia de coordenação e de luta que responda à gravidade da ofensiva neoliberal dirigida a partir do próprio Conselho e Comissão europeus.
Fórum da crise, ou fórum em crise?
Esta interrogação esteve presente nos debates em Istambul, face às encruzilhadas e aos impasses não resolvidos que os sindicatos e movimentos sociais, o movimento altermundialista enfrentam, num momento em que as exigências de resistência, de protesto, de acção colectiva são maiores, para enfrentar e vencer esta vaga de políticas neoliberais que renascem com maior violência e cavalgam a crise económica e financeira com o objectivo de destruir o Estado social e impor a completa ditadura dos mercados.
A consciência da necessidade de prosseguir a reflexão comum sobre os caminhos para desenvolver a coordenação e mobilização dos movimentos sociais à escala europeia e para se fazer o balanço do papel e do futuro do FSE conduziu também à conclusão inscrita na declaração final aprovada de se realizar em 23 e 24 de Outubro (ou 13 e 14 de Novembro) uma assembleia europeia em Paris.
O FSE apontou uma agenda de mobilização social europeia!
O Fórum Social Europeu, organizado desta vez em Istambul com grandes limitações de recursos e na base do activismo generoso e solidário de organizações sociais e sindicais turcas, sem apoios institucionais e sob a desconfiança do poder político turco, com uma participação do conjunto dos países europeus mais condicionada pelas dificuldades económicas agravadas da deslocação, afirmou-se todavia como o único grande espaço europeu de diálogo, de debate e de construção de convergências entre milhares de activistas e movimentos sociais na sua grande diversidade e pluralidade, marca distintiva da capacidade do movimento altermundialista.
As conclusões e análises contidas nos documentos aprovados nas várias assembleias temáticas – sobre a paz e a guerra, migrações, educação, trabalho, etc. (ver aqui) – exprimem bem essa diversidade e apontam também agendas para a coordenação e a acção comum a desenvolver em várias frentes.
Destacamos, pelo seu interesse para nós, o apoio manifestado a uma Semana de Acção contra a Cimeira da NATO entre 15 e 21 de Novembro, em Lisboa, que afirme a oposição à nova estratégia desta organização político-militar, que constitui um obstáculo à construção da paz mundial.
Não venham outra vez com a TINA! Existem alternativas para um mundo melhor!
Estava errada Thatcher, como estão enganados os seus actuais discípulos que repetem o mesmo, quando proclamou a conhecida TINA - "There is no alternative!" (Não há alternativa). Três décadas depois, cá estamos nós dispostos a provar que as alternativas existem. Precisamos é de juntar forças, estimular o engenho e arte e lutar por elas!
O FSE de Istambul, não escondendo as fraquezas e dificuldades actuais dos movimentos sociais, demonstrou também que existem muitas forças, muito activismo determinado em juntar vontades e capacidades para resistir e para construir alternativas que demonstrem que um mundo melhor é possível.
0 comentários:
Enviar um comentário