sábado, 30 de outubro de 2010

José Régio: um retrato do Orçamento de Estado


Soneto quase inédito


Surge Janeiro frio e pardacento,
descem da serra os lobos ao povoado;
assentam-se os fantoches em São Bento
e o Decreto da fome é publicado.

Edita-se a novela do Orçamento;
cresce a miséria ao povo amordaçado;
mas os biltres do novo parlamento
usufruem seis contos de ordenado.

E enquanto à fome o povo se estiola,
certo santo pupilo de Loyola,
mistura de judeu e de vilão,

também faz o pequeno "sacrifício"
de trinta contos - só! - por seu ofício
receber, a bem dele... e da nação.


JOSÉ RÉGIO
(Soneto escrito em 1969)

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