terça-feira, 11 de janeiro de 2011

WikiLeaks: a perseguição do império e o ataque à privacidade nas redes sociais

O Departamento de Justiça norte-americano intimou os responsáveis do Twitter a fornecerem dados sobre a correspondência privada, contactos e outros dados pessoais de vários cidadãos suspeitos de colaboração com o WikiLeaks, incluindo o soldado Bradley Manning (preso e incomunicável há meses) e uma deputada do Parlamento da Islândia (!). Prossegue assim a declarada cruzada da Administração Obama para perseguir e julgar Assange, principal responsável do WikiLeaks, cidadão australiano e que não reside nos EUA, agora não hesitando em invadir a privacidade doutros cidadãos, incluindo estrangeiros e mesmo uma deputada de um outro país soberano (ver aqui a informação completa).

Este é o mesmo país cujos governantes ainda se afirmam guardiães da liberdade e polícias do mundo.Que criticaram as pressões da China sobre o Google, que invadiram o Iraque e o Afeganistão em nome da imposição aos outros da "sua" liberdade e democracia, que recusam aceitar a submissão dos seus cidadãos ao Tribunal Penal Internacional (achando muito bem que os outros se submetam), certamente porque já vai extensa a lista dos seus crimes de guerra e contra a humanidade em vários teatros de operações.

Como já alertou a organização WikiLeaks, a pressão judicial dos EUA sobre o Twitter provavelmente também se exerceu sobre o Google e o Facebook, que não desmentiram tais pressões. Recordemos que a WikiLeaks tem milhão e meio de seguidores no Facebook e 600 000 no Twitter. Ou seja, à boleia da divulgação pública dos documentos do Departamento de Estado, os EUA preparam uma gigantesca operação repressiva e invasora da liberdade dos cidadãos na Internet e nas redes sociais, contando certamente com a cooperação de países "amigos" e mandando às urtigas as proclamações de amor à democracia.

É tempo de a comunidade de cidadãos que defendem a liberdade na Internet e se opõem ao seu apetecido controlo pelos Estados, pelas transnacionais e pelos poderes fácticos, reforçarem a vigilância e a mobilização global para impedir o assalto à privacidade em curso. Agora a WikiLeaks e quantos a apoiam, depois quem mais e o quê?

Pagaremos caro a indiferença, a passividade ou o conformismo...

E vem-nos à memória um conhecido poema atribuído a Brecht, de que aqui fica uma versão conhecida:
A indiferença

Primeiro levaram os comunistas,
Mas eu não me importei
Porque não era nada comigo.
Em seguida levaram alguns operários,
Mas a mim não me afectou
Porque eu não sou operário.
Depois prenderam os sindicalistas,
Mas eu não me incomodei
Porque nunca fui sindicalista.
Logo a seguir chegou a vez
De alguns padres, mas como
Nunca fui religioso, também não liguei

Henrique Sousa, Direcção da ATTAC Portugal

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